Resenha: Convite para um Homicídio, de Agatha Christie

Gabriel Barros Neres - Jornalista
Em Chipping Cleghorn, na Inglaterra, um anúncio no jornal chama a atenção de alguns moradores do pacato vilarejo: "Convida-se para um homicídio, às 18h30, nesta sexta-feira, 29 de outubro, em Little Paddocks. Contamos com a presença dos amigos. Não haverá outra convocação". O que a princípio parecia ser apenas uma brincadeira chamada "Jogo do Assassino" logo se torna um caso de homicídio quando, no horário anunciado, as luzes se apagam, tiros são ouvidos, a senhorita Blacklock é ferida e um homem morto é encontrado na mesma sala que os convidados.
Convite para um Homicídio (L&PM, 2013, 192 páginas) é mais um instigante livro de mistério escrito por Agatha Christie, a Rainha do Crime. Publicado originalmente em 1950, a obra é protagonizada por Miss Marple, uma das detetives mais recorrentes da autora e que é conhecida por ser uma idosa bastante perspicaz, intrometida e simpática. É comum que tenha uma participação reduzida nos livros em que protagoniza, pois, sendo uma detetive amadora, não possui envolvimento com a polícia e a própria Miss Marple não se considera uma detetive, mas sim uma "estudiosa da natureza humana".
Quem se encarrega do caso na maior parte da trama é o inspetor Craddock, da New Scotland Yard, investigando os álibis, interrogando as testemunhas - que, tratando-se de livro da Agatha Christie, também são os principais suspeitos - e seguindo pistas importantes sobre o homicídio. Miss Marple e o inspetor Craddock acabam se complementando durante a história, inclusive na revelação final, quando os dois explicam a solução do caso.
Um ponto positivo para a narrativa é a ambientação. Muitas histórias da autora se passam num cenário parecido ao que é visto em Convite para um Homicídio: um vilarejo pequeno, um grupo específico de pessoas com atitudes suspeitas e o detetive entre eles, além de pequenos mistérios que servem tanto para enganar as convicções do leitor quanto para aprofundar possíveis motivações para o homicídio.
Mas há um elemento diferente nesta obra, que é a abordagem do contexto histórico, afinal a Segunda Guerra Mundial ainda era recente na época em que o livro foi escrito e lançado. De vez em quando os personagens conversam sobre o mundo pós-guerra, mas quem ilustra bem as consequências da Guerra é Mitzi, a cozinheira da srta. Blacklock e refugiada em Chipping Cleghorn após perder toda sua família durante a ocupação nazista na França. Em várias ocasiões ela é chamada de mentirosa e tratada com maior desconfiança por ser estrangeira, assim como em outros momentos Mitzi demonstra certa paranoia, achando que será executada igual aos familiares que perdeu.
Convite para um Homicídio é mais uma história divertida de Agatha Christie, com um mistério instigante, personagens marcantes e uma solução mirabolante que consegue fazer sentido dentro da narrativa. Para os olhos mais atentos, é possível descobrir o culpado antes do fim graças às pistas deixadas pelo caminho, mas ainda assim não deixa de ser um final surpreendente e bastante criativo.